Por Triana Ballesta
A dança
baladi nada mais é do que a expressão em forma de musica e movimentos de um
povo.
Quando
usamos a expressão “baladi” estamos nos referindo a um termo referente à “terra
natal”. Isso pode ser um país, uma região, uma cidade, um bairro, uma rua,
enfim. É um termo muito amplo, porém, no Cairo, o termo é utilizado pela alta
sociedade de forma pejorativa, se referindo ao “baladi” como caipiras,
simplórios...
O motivo de
“baladi” receber esse tipo de referência é o fato de se tratar de famílias que
vieram de outras regiões interioranas do Egito e terem se instalado no Cairo a
fim de melhorar suas vidas no comércio, produção, serviços, empregos, etc. São
famílias que já se instalaram no Cairo a mais de 10 gerações e mesmo assim
preservam com muito orgulho suas origens e sua cultura – relação direta com
musica e dança. Portanto, estamos falando de pessoas simples, porém com valores
sólidos ligados a sua identidade cultural.
Assim,
falahis de várias regiões, saidis, e demais povos se encontraram numa mesma
cidade, se tornaram vizinhos e começaram a compartilhar suas culturas, seus
estilos de arte, musica, dança e assim nasceu a dança baladi!
O que é necessário saber?
A música
baladi consiste numa improvisação musical e assim como a dança, ela não e
coreografada. Por ser assim, dança APENAS 1 BAILARINA por vez. Ou seja, não é uma dança feita para
se dançar em grupo, nesse caso, a bailarina sola do início ao fim.
Toda a dança consiste em ser uma
prolongação da própria música. Ou seja, a bailarina faz parte da formação
instrumental da banda e seu papel é tornar a musica tridimensional aos
espectadores. É a tradução de sons em movimentos da DANÇA EGIPCIA.
Uma moça
baladi jamais vai usar uma roupa “sharqui” em publico, ela vai usar seu vestido
“thoub” (galabeya), sua dança será o reflexo de sua feminilidade, graça,
alegria e acima de tudo respeito as origens baladi de sua familia.
Como é uma musica baladi e como se
dança?
Como nas
demais danças egípcias, você deve dançar a musica de forma a ler com os
movimentos do corpo cada nota musical. E a trama de uma música baladi se dá
dessa forma:
AWWADY (se fala “AWEDY”): Introdução da musica no taqsim. Ela acontece
com o som de um único instrumento, pode ser um acordeon, oud, nay, ou até mesmo
sax ou teclado. Essa parte é semelhante
ao “MAWWAL” (se fala “mawwel” – canto livre, não rítmico, dramático). A música
se apresenta de maneira suave, desprenteciosa, nostálgico e sem o acompanhamento
de ritmo algum ou um ritmo suave e lento como masmoud, wahda kebira.
Nesse
momento a bailarina deve se mover conforme a música, acompanhando as notas mais
longas com movimentos longos e movimentos, gestos suaves e postura respeitosa e
aos poucos o ritmo maqsoum começando a
dar mais conforto aos olhos e ouvidos todos (músicos, bailarina e público) e se
retoma a escala musical do inicio.
ME-ATTAA: Significa “quebrar em pequenos
pedacinhos” da musica e do ritmo. Inicia-se um jogo de pergunta e resposta
entre instrumentistas e percussionistas ou 2 instrumentistas ou 2 percussionistas,
um a completar o outro em um jogo musical e a bailarina pode “se soltar” um
pouco mais, e se mostrar mais feminina e autêntica.
O ritmo
começa a acelerar e a personalidade da bailarina vai subindo à tona até o
momento em que se inicia a 3 parte do baladi:
TET: Nessa parte os músicos retomam suas origens com som
de folclore, interiorano, falahi (fazendeiros) . Os acentos estão em 2 e 4 e a bailarina começa a fazer o “básico
egípcio”.
4/4 1 2 3
4 | 1
2 3 4
tiit toot Teet Teit
Por algum
tempo permanece no TET ao som do mizmar até que retorna o ME-ATTAA breve para
poder iniciar o ritmo Falahi (o falahi pode ser tocado no TET também). Nesse
ponto pode-se usar a andada egípcia (andada com shimmie), pois eh típico
falahi.
No final os
músicos podem gentilmente voltarem ao caminho que percorreram até o Taqsim
awwady e terminar ou acelerar até terminar em um solo de percussão.
Como traduzir a música?
A bailarina
vai se movimentar conforme seus sentimentos, seu aprendizado físico e técnico
que variam de pessoa para pessoa. Porém, sem jamais se esquecer de que faz
parte de um grupo musical, seu trabalho é em conjunto com outros artistas a
formar a obra final! Por isso cada gesto deve estar sendo movido pelo som que
se ouve e imerso por sentimentos que ele desperta.
Esse conceito
é chamado por E=E por Hossam Ramzy no qual o primeiro E significa “som” ou
“musica” e o segundo E significa “movimento” e o símbolo de “=” deve ser
entendido como igual em tamanho e intensidade. Ou seja, tamanho da nota musical
curta ou longa e intensidade de som, quantos instrumentos estão a tocar e de
que forma. A letra “E” pode ser substituída também por “M” (Musica e
Movimento).
Concluímos
que a bailarina nunca está fazendo um trabalho completamente solitário, uma vez
que faz parte de um conjunto musical, por isso também não tem total liberdade
de criação, assim como todos os outros músicos que devem tocar em harmonia uns
com os outros.
Em musicas
baladi encontramos instrumentos predominantes em sua composição, ou no taqsim,
ou em todo o seu desenvolvimento. É importante reconhece-los, vivenciarmos e
notarmos as diferenças entre um e outro para que possamos transmitir essas
diferenças claramente e aguçarmos o nossa criatividade e sensações. Alguns deles são:
NAY : Incluimos nay e kawala que fazem sons EXTREMAMENTE
SUAVES, leves e fluidos e externos, com notas prolongadas ao mesmo tempo que a
bailarina fará movimentos suaves e prolongados, como bambu ao vento nas margens
do Nilo (material com que e feito o instrumento). Caso o som se fragmente o
mesmo pode ser feito com shimmies delicados, apenas nesse caso.
Abaixo a Bailarina brasileira que hoje reside na Alemanha Karima Giz, na minha opinião uma das melhores tradutoras da nay que já vi.
Estou colocando outro vídeo da bailarina Mona El Said dançando um baladi, ela inicia no acordeon, porém, no meio do video ela traduz o som da nay, começando pelo ritmo e introduzindo aos poucos o som do instrumento que por sua vez é tocado com notas "quebradas" , vibrando. Obviamentem ela faz o mesmo vibra suavemente.
QANUM: As notas são agrupadas nos dando a
sensação de vibração, portanto a bailarina pode representar esse som fazendo
shimmies fundindo com ondulatórios,
lendo assim, a melodia que está sendo tocada. Nesse momento os braços podem
permanecer na maioria das vezes próxima aos quadris dando ênfase aos pequenos
tremidos que estarão sendo executados.
Abaixo uma performance magnifica da grande bailarina egipcia Lucy com a musica Lissa Faker (não se trata de uma musica baladi, mas coloco como referência de leitura da tradução do Qanum)
Não podia deixar de colocar a Soheir em toda sua fase madura demonstrando toda sua experiência e sabedoria ao traduzir esse Qanum
OUD: É importante diferenciar a leitura dos diferentes
instrumentos de corda com shimmies de diferentes intensidades. O OUD, assim
como o QANUM é um instrumento de notas agrupadas, mas seu som é diferente e
pode lhe proporcionar diferentes sensações comparadas ao anterior. A bailarina
pode fazer tremidos mais soltos a fazer parecer um som mais grave floreando com
pequenas batidas e fundindo com movimentos sinuosos de quadril.
Abaixo a bailarina Munira Magharib dançando um clássico da musica egipcia, a musica Aziza de Mohamed Abdel Wahab. Ela dança com perfeição todos os solos de taqsim, e o primeiro é o Oud.
VIOLINO: O som pode varias do grave ao
agudo, pode ser mais prolongado ou mais encurtado e sensual. É um instrumento
com muitas possibilidades emotivas, variando do triste melancólico ao alegra e
festivo. Podemos trabalhar a nossa agilidade corporal nos movimentos sinuosos
com mais intensidade que o Nay e explorar intenções que podem partir do centro
do corpo para fora (ex: quadris para os braços) ou de fora para o centro do
corpo(braços para quadris).
Abaixo Serena Ramzy dando uma pequena amostra de violino que é o que eu mais gosto de vê-la traduzindo.
Agora a bailarina Aisha Almeé traduzindo um taqsim de violino divinamente!
ACORDEON: É um instrumento que abre muitas
possibilidades sonoras e de movimentos, por consequência. Esse instrumento foi incorporado a várias culturas no mundo
todo, inclusive Egito (e Brasil) no folclore. Seu som é forte e assim como o
violino pode ser alongado ou fracionado ou mais fracionado ainda. A bailarina
pode manter os pés no chão por inteiro e dobrar os joelhos para que seu quadril
trabalhe com tanta agilidade quanto a musica, responder as mudanças de tons e
notas e se envolver por completo por suas vibrações.
Abaixo simplesmente Fifi Abdo dançando um baladi....covardia não é?!
Outro video (um dos meu preferidos), uma bailarina gold age Naima Akef. Traduzindo perfeitamente o acordeon, não apenas isso, ela ainda canta, interpreta, etc...
*Indico a leitura do artigo “Zeinab” disponível em www.hossamramzy.com , no qual foi
utilizado como principal referência para esse estudo.
Aqui, eu dançando um baladi ao som do sax ;)
Apresentação em Curitiba - Memorial Largo da Ordem
Adorei o post, chuchu. Já conhecia o texto do Hossam, mas revisar sempre é muito bom!
ResponderExcluirObrigada lory! Mantive a estrutura básica do que o Hossam ensina sobre a musica baladi com mais algumas coisas que aprendi com ele em aula e outras percepções pessoais... gostaria de mais videos como exemplos de Baladis completos... :)
ExcluirLindaaaaaa Triana, parabens super bjsss
ResponderExcluirbeijos mari! obrigada!!!
ExcluirSabia que eu amo voce TriTri ?!!? Lindimaaais da conta so...
ResponderExcluireu tbbbbbbbbbbbbbbbbbbb! mil coraçõezinhos pra vc!!!
ExcluirMuito bom!
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